QUANDO OCORREU A EXPULSÃO DE SATANÁS DO CÉU?

por Presb. Rubens Cartaxo Junior

Igreja Presbiteriana de Natal

Há muitas pessoas, possivelmente a maioria, que pensam que a expulsão de Satanás do céu ocorreu em algum momento remoto no passado, até mesmo antes da criação do mundo e do homem. Outros asseveram que entre o versículo 1 e o versículo 2 de Gênesis 1 ocorreu a guerra no céu entre Satanás e as milícias angélicas, o que resultou em que o universo ficou “sem forma e vazio”, necessitando então que Deus o remoldasse conforme o relato do v. 3 ao v. 31 de Gn 1. Entrementes, será que é isso que as evidências bíblicas revelam?

Em primeiro lugar, devemos nos lembrar de uma das colunas da Reforma Protestante e uma das colunas da igreja: a fidelidade às Escrituras, o famoso “Sola Scriptura”. A Bíblia Sagrada é a nossa regra de fé e prática. Assim, não importam as minhas opiniões ou preferências pessoais, mas o que é revelado por Deus nas Escrituras para nosso ensino e correção (2 Tm 3.16).

No AT há alguns textos no mínimo intrigantes para quem assume as assertivas expostas no primeiro parágrafo. O primeiro deles é a presença satânica no Jardim do Éden. Como explicar sua presença se o diabo havia sido expulso da presença de Deus? Outro texto intrigante é 1 Sm 16.14 que diz “O Espírito do SENHOR se retirou de Saul, e um espírito maligno, vindo da parte do SENHOR, o atormentava” (grifo meu). Como podes ser isso? Ainda outro texto incômodo é 2 Cr 18.18-22. O contexto desse texto é o seguinte: o perverso rei Acabe, de Israel, o reino do Norte, recebe a visita do rei Josafá, de Judá, o reino do Sul. Acabe quer o apoio de Josafá para atacar seus inimigos em Ramote-Gileade. Josafá sugere que se consulte ao SENHOR para saber se Deus estará com as tropas de Israel e Judá. Na corte de Acabe há vários falsos profetas, bajuladores do rei, que profetizam uma grande vitória. Josafá não se convence e pergunta se não há um profeta do SENHOR para ser consultado. Acabe diz que sim, mas Micaías só profetiza coisas desagradáveis a respeito do rei. Mesmo a contragosto, Acabe manda trazer Micaías, que prevê a derrota dos israelitas e a morte de Acabe. Acabe fica furioso e manda prender o profeta. É nessa altura que Micaías profere sua fala registrada nos v. 18-22 e ainda diz que se o rei voltar vivo, é a prova de que ele não é profeta.

O texto dos v. 18-22 pinta uma cena celestial. Deus está no trono com todo exército celestial à esquerda e à direita. E Deus pergunta àquela assembleia “Quem enganará Acabe, rei de Israel, para que ataque Ramote-Gileade e morra lá?” Um espírito se apresentou e disse que conseguiria enganar o rei: “Irei e serei um espírito mentiroso na boca de todos os profetas do rei”. Deus concordou com o plano e o v. 22 diz: ”E o SENHOR pôs um espírito mentiroso na boca destes seus profetas. O SENHOR decretou a sua desgraça”. Seria razoável pensar que um anjo poderia mentir, ou seja, pecar, sem se tornar um demônio? Não. Então quem seria esse espírito que se dispôs a mentir senão um dos anjos caídos, um demônio, seguidor de Satanás? Como ele poderia estar presente na corte celestial naquela ocasião?

Talvez o texto mais conhecido da presença de Satanás no céu, na corte celestial, é o registrado no livro de Jó. Em Jó 1.6-12 temos o relato de um diálogo entre Deus e Satanás. Curioso é que Satanás se apresenta a Deus na mesma ocasião em que os anjos o fazem. Curioso, não? Jó 2.1-7 novamente relata uma cena celestial: anjos vêm apresentar-se a Deus e Satanás vem junto e tem um diálogo com Deus. Mas Satanás e seus anjos não teriam sido expulsos do céu bem anteriormente? Como pode ele, um rebelde expulso da corte celestial apresentar-se assim, na maior, diante de Deus e na presença dos anjos sem sofrer nenhuma reprimenda ou punição?

A resposta dada pelo Rev. Leandro Lima, com a qual concordo, é que a expulsão de Satanás não ocorreu antes da criação. A expulsão de Satanás ocorreu muito posteriormente, por ocasião da Exaltação de Cristo, quando Jesus foi assunto aos céus para sentar-se à direita de Deus-Pai (Fl 2.9; Hb 1.3b; Ef 1.20-23; Ap 4 e 5; Ap 12.5-12).

Até a exaltação de Jesus, descrita nos capítulos 4 e 5 de Apocalipse, o diabo tinha o direito legal de frequentar a corte celestial e de acusar os seres humanos de seus pecados. Satanás, quando fez o homem pecar, usurpou-lhe a autoridade sobre a terra e ele e seus demônios passaram a dominar sobre as nações. Essa é razão pela qual, antes de sua morte, ressurreição e exaltação, Jesus chamou o diabo de príncipe deste mundo (Jo 12.31; Jo 14.30; Jo 16.11; Ef 2.2). Veja que em Jo 12.31 Jesus, predizendo sua morte, diz que “agora será (verbo no futuro) expulso o príncipe deste mundo”. Expulso de onde? Do céu. Com a vitória de Cristo na cruz, ele recebeu autoridade para expulsar Satanás do céu e lançá-lo à terra.

Os desdobramentos desses eventos vamos explorar no próximo artigo.

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