NAS ASAS DA ESPERANÇA

NAS ASAS DA ESPERANÇA

Wicliffe de Andrade Costa

Salmo 42

Para o mestre de música. Um poema dos coraítas.

1 Como a corça anseia por águas correntes,

a minha alma anseia por ti, ó Deus.

2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo.

Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?

3 Minhas lágrimas têm sido o meu alimento

de dia e de noite,

pois me perguntam o tempo todo:

“Onde está o seu Deus?”

4 Quando me lembro destas coisas choro angustiado.

Pois eu costumava ir com a multidão,

conduzindo a procissão à casa de Deus,

com cantos de alegria e de ação de graças

entre a multidão que festejava.

5 Por que você está assim tão triste,

ó minha alma?

Por que está assim tão perturbada

dentro de mim?

Ponha a sua esperança em Deus!

Pois ainda o louvarei;

ele é o meu Salvador e 6 o meu Deus.

A minha alma está profundamente triste;

por isso de ti me lembro desde a terra do Jordão,

das alturas do Hermom, desde o monte Mizar.

7 Abismo chama abismo ao rugir das tuas cachoeiras;

todas as tuas ondas e vagalhões se abateram sobre mim.

8 Conceda-me o Senhor o seu fiel amor de dia;

de noite esteja comigo a sua canção.

É a minha oração ao Deus que me dá vida.

9 Direi a Deus, minha Rocha:

Por que te esqueceste de mim?

Por que devo sair vagueando e pranteando,

oprimido pelo inimigo?

10 Até os meus ossos sofrem agonia mortal

quando os meus adversários zombam de mim,

perguntando-me o tempo todo:

“Onde está o seu Deus?”

11 Por que você está assim tão triste,

ó minha alma?

Por que está assim tão perturbada

dentro de mim?

Ponha a sua esperança em Deus!

Pois ainda o louvarei;

ele é o meu Salvador e o meu Deus.

Os salmos 42 e 43 se completam: de fato, eles talvez já tenham sido um único salmo. Há um refrão que é comum a ambos. Veja o salmo 42.5 e 11 e o salmo 43.5. Os coraítas (ou “filhos de Coré”), identificados no título hebraico, eram cantores sacros, na época do reinado de Davi. A essa família levítica são atribuídos doze salmos.

No salmo 42 mesclam-se súplicas a Deus, diálogos do salmista consigo mesmo e descrições de seu estado pessoal.

1. UMA ALMA EM SEDE PROFUNDA (“A minha alma tem sede…” v. 1-5) –

A imagem do cervo domina a cena. Como uma corça no calor abrasador do verão, com os ossos à mostra e a língua inchada por falta de água, o salmista deseja apenas uma coisa. E deseja-a desesperadamente. Atravessava uma fase de aridez espiritual, na qual não conseguia ver a Deus, mas anela gozar da presença de Deus outra vez.

Para pensar: Você já sentiu alguma vez ânsia semelhante a essa de Deus se revelar a você?

A experiência de se ver afastado da face de Deus (v. 2) era dolorosa; agravada por duas circunstâncias. Externamente, os inimigos aproveitavam-se da situação e ridicularizavam a confiança do salmista, levantando dúvidas sobre a realidade de Deus e o seu cuidado para com os que o temiam (v. 3). Internamente, ele se recordava de grandes experiências no Templo, quando, alegremente, tomara parte nos festejos. Mas essas recordações apenas tornavam seu estado atual mais angustioso (v. 4). Ontem, havia festejos. Hoje, só perplexidade e angústia.

Para pensar: Momentos de profunda experiência espiritual no passado são suficientes? De que temos necessidade realmente?

2. UMA ALMA EM TRISTEZA PROFUNDA (“A minha alma está profundamente triste…” v. 6-11) –

Outras imagens dominam agora o pensamento do poeta. O rio Jordão, não longe da sua nascente nas encostas do Hermom, se precipita entre as rochas e por cima de cataratas. Seu estrondo e sibilar ecoam. O salmista é conturbado por esse quadro assoberbante: sente-se sem apoio para os pés, como se as ondas, uma após outra o submergissem (v. 7). Mesmo assim, sua fé vem à tona (v. 8). Tão firmemente como a presença de Deus é assegurada no versículo 8, a mágoa pela sua “ausência” é expressa, nos versículos 9 e 10. Tal é a situação do homem: por um lado, com sua mente firmada em Deus, revela-se um homem de convicção; por outro lado, submetido a pressões diversas, mostra-se uma criatura mutável, que não fica impassível ante as dificuldades (v. 10). Não há nenhum alívio da tensão, mas as emoções são agora vistas à luz da fé.

Com honestidade, o salmista se dirige a Deus (v. 9). Igualmente, é honesto consigo mesmo, acolhendo a si mesmo, em sua tristeza e perturbação (v. 5 e 11). Porém toma as asas da esperança para transcender a realidade. Convida sua alma a olhar para além de si mesma: para o Deus no qual se firmavam a fé e a esperança. Só ele poderia reverter aquela situação.

Para pensar – Você é realmente honesto consigo mesmo? Você é realmente honesto com Deus?

Para guardar – Para além das circunstâncias, a esperança.

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