OS OFICIAIS DA IGREJA E OS NOSSOS SÍMBOLOS DE FÉ (por Rev. Flávio Américo)

OS OFICIAIS DA IGREJA E OS NOSSOS SÍMBOLOS DE FÉ (por Rev. Flávio Américo)
Westminster Assembly (acontecida de 1643-1653), John Rogers Herbert, 1847.
Antes de entrar na discussão proposta no título desse texto, é essencial ter clareza sobre o fato de que a Igreja Presbiteriana do Brasil é uma denominação bíblica, confessional e constitucional. Poderíamos, exigente leitor, citar outros adjetivos, no entanto, esses três são importantes para a discussão ora em curso. 
 
Por bíblica, entenda-se que nossa igreja segue o princípio protestante chamado Sola scriptura, isto é, a nossa única fonte de fé e prática é a Bíblia. Cremos que a Palavra de Deus deve ser ensinada a todas as pessoas e que todas as pessoas devem confrontar os ensinos de seus líderes com o que dizem as Escrituras. Cremos também na perspicuidade do Texto Sagrado, a saber, a sua clareza quanto ao essencial à salvação, não sendo preciso ser um acadêmico para lê-lo, entendê-lo e ser salvo, inclusive e principalmente porque todos os crentes são iluminados pelo Santo Espírito para discernir espiritualmente o fundamental no que nos foi revelado no AT e no NT. 
 
A confessionalidade da IPB decorre das Escrituras, não é paralela nem muito menos superior a elas. As confissões e outros textos confessionais protestantes do XVI e do XVII foram escritas visando explicar o que a Palavra de Deus diz, não discordar ou acrescentar algo a ela. Sendo assim, os Documentos de Westminster (dos quatro publicados, aceitamos a Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo) são usados pela IPB como nosso padrão doutrinário, isto é, aquilo que nos torna presbiterianos e nos diferencia, para citar um exemplo, dos assembleianos. É importante dizer que as diferenças doutrinárias entre nós e outras igrejas bíblicas (mais uma vez, cito como exemplo a Assembleia de Deus) se apresentam em questões teológicas que não ferem a compreensão genuína do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. 
 
Também somos uma igreja constitucional. Com essa qualidade, destaco que a IPB é regida por documentos oficiais, sendo o principal deles a Constituição (datada de 1950), que regula nosso Código de Disciplina; Princípios de Liturgia; estatutos conciliares e de outras de nossas instituições; e decisões do Supremo Concílio e de concílios inferiores (sínodos, presbitérios, etc.). 
 
Juntando Sola scriptura, confessionalidade, constitucionalidade e história do presbiterianismo (no mundo e no Brasil), temos o que poderia ser chamado de DNA Presbiteriano. Todos os oficiais da IPB, quer sejam presbíteros (docentes e regentes), quer sejam diáconos, juram diante de Deus, da Igreja e da sociedade que creem e defendem a Sã Doutrina (o verdadeiro ensino bíblico), nossos Símbolos de Fé (os documentos de Westminster citados acima como reconhecidos pela IPB) e nossa Constituição (e outros documentos oficias da denominação)
 
Os membros da igreja que não são oficiais, na Profissão Pública de Fé ou no Batismo de seus filhos, juram perguntas mais credais do que confessionais, sem contar que não juram crer e defender os Padrões de Westminster. O que isso significa? Por exemplo, um membro comum pode ter dúvidas sobre a doutrina da predestinação e continuará sendo presbiteriano, mas será disciplinado se não crer na Trindade. 
 
Por outro lado, todos os oficiais presbiterianos são obrigados por juramento solene a crer e defender nossos Símbolos de Fé. Não é justa a argumentação, para se quebrar os juramentos feitos na ordenação, de que o ordenado está seguindo a Bíblia. Se, para citar um exemplo, ele for contra o batismo infantil, ele continuará sendo nosso irmão em Cristo, mas ele estará quebrando, como oficial da IPB, o juramento que fez de defender os Padrões de Westminster. A questão não é se ele é salvo, é se ele é um oficial da IPB. É importante que encaremos com seriedade os juramentos solenes que fazemos. 
 
A Igreja Presbiteriana do Brasil tem passado por um momento de profunda discussão de sua confessionalidade. Alguns entendem que devemos assinar embaixo de cada frase dos padrões de Westminster. Outros, que a fidelidade confessional está ligada à compreensão mais geral, com o caráter abrangente dos documentos. O objetivo desse texto não é resolver o debate. No entanto, desprezar nossa confessionalidade é um grave erro, e isso pode acontecer de três formas: (1) simplesmente desconhecendo os Documentos de Westminster; (2) não ensinando-os; e (3) ensinando doutrinas que afrontam diretamente nossos Símbolos de Fé
 
Entre diáconos e presbíteros, a necessidade de conhecer, ensinar e defender a Confissão de Westminster, o Catecismo Maior de Westminster e o Breve Catecismo de Westminster recai principalmente sobre os últimos. Ser apto para ensinar e defender a sã doutrina, o que diferencia o presbiterato do diaconato, significa também ensinar e defender nossa compreensão dela, ou seja, nossa confessionalidade presbiteriana. 
 
Encerro, leitor, relembrando que não é questão de ser crente ou não. A questão, como bem sintetizou o Rev. Boanerges Ribeiro, é que, principalmente tratando-se de nossos oficiais, “ninguém nos obriga a ser presbiterianos. Mas, se queremos sê-lo, sejamo-lo honradamente.”

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