Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galiléia e por João foi batizado no rio Jordão. Logo ao sair da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito descendo como pomba sobre ele. Então, foi ouvida uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. (Marcos 1:9-11). 


Uma das passagens que mostram a rica diversidade narrativa dos Evangelhos é o Batismo de Jesus (Mt 3:13-17; Mc 1:9-11; Lc 3:21-22; e Jo 1:32-34). João só menciona por cima o evento. Lucas, que tem como uma das ênfases dos seus escritos (Lucas-Atos) a oração, é o único que menciona que o Senhor estava falando com Deus quando do seu batismo. Somente Mateus nos conta da conversa entre João Batista e o Salvador quanto à necessidade de Cristo passar pelo Batismo, que era um símbolo de arrependimento pelos pecados. O ex-publicano é enfático em mostrar Jesus a “cumprir” (πληρόω/plēroō, verbo muito presente e importante em Mateus) as promessas do Antigo Testamento, principalmente por ter escrito para um público marcadamente judeu. Aquele que nunca pecou (Hb 4:15) foi batizado para “cumprir [πληρόω/plēroō] toda a justiça” (Mt 3:15)E Marcos?

Marcos é o único que usa o verbo “rasgar” (σχίζω/schizō) para descrever o que Mateus e Lucas descreveram como o “abrir” (ἀνοίγω/anoigō) do céu. Marcos usa um verbo bem mais enfático para chamar nossa atenção para o fato de que Jesus, mesmo vivendo na história, tem pleno acesso ao Eterno. O uso de σχίζω/schizō também mostra Deus cumprindo Isaías 64:1: “Oh! Se fendesses os céus e descesses!”. Deus desceu! Ele veio salvar o seu povo, como mostra a linda passagem trinitária do Batismo de Jesus.

Todavia, há outra lição muito importante no uso que o evangelista aqui analisado faz de σχίζω/schizō, que tem a ver com a segunda e última aparição do verbo no livro: “Mas Jesus, dando um grande brado, expirou. E o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo”. (Mc 15:37-38).

Quando o céu foi rasgado no Batismo, a presença de Deus escancarou-se para Cristo. Com a morte de Jesus e o consequente rasgar do véu do Templo, nós, os crentes, os que fomos lavados pelo sangue do Cordeiro, passamos a ter um novo e melhor acesso à presença de Deus.

Outrora, apenas o Sumo Sacerdote podia entrar no Santo dos Santos e fazia isso apenas uma vez por ano, no Dia da Expiação, para fazer remissão pelos pecados do povo. Jesus, nosso Sumo Sacerdote, perfeito e com sacerdócio segundo a Ordem de Melquisedeque (Sl 110:4 e Hb 5:6 e Hb 6:20-7:17), ofereceu o sacrifício de uma vez por todas, rasgou o véu e nos deu um novo e constante acesso à preciosa e santa presença de Deus.

Aproveite a lembrança ou o aprendizado dessa maravilhosa mensagem de que Deus quer um relacionamento conosco para, leitor, falar com Ele agora. Tenhamos, portanto, irmãos, “intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hb 10:19-20).

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