Estátua de César Augusto
Lucas começa o relato do nascimento de Jesus dizendo que “naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se” (Lc 2:1). Caio Júlio César Otaviano Augusto era o cara mais poderoso do mundo quando Jesus nasceu. Ele praticamente fundou Roma como um Império, conseguindo controlar o Senado e não ser assassinado, como aconteceu com Júlio César. Ele era poderoso, mas não era o verdadeiro Rei.

O verdadeiro Rei nasceu de uma mulher dos confins do Império. Ela teve a honra de receber Gabriel, que lhe disse coisas grandiosas: “Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1:30-33).

Só que o pré-natal da criança e o nascimento não foram dignos nem de um ser humano, quanto mais do Senhor do universo. O verdadeiro Rei provavelmente teve os pais difamados pelo fato de Maria estar grávida antes do casamento. O final do pré-natal, quando a mãe estava mais limitada fisicamente e mais fragilizada, foi feito na estrada, provavelmente sobre o lombo de um jumento, subindo para a Judéia, que era mais alta do que a Galiléia.

Chegando em Belém, lotada por causa da peregrinação em massa para o recenseamento ordenado pelo Imperador, Maria, para ter a criança, teve que se contentar com o cômodo da casa (provavelmente de familiares de José, não uma hospedaria) destinada aos animais. Como cereja de bolo para recepção da criança por meio de quem e para quem tudo foi criado (Cl 1:16), temos o fato dela ter sido colocado numa manjedoura. Devido aos vários anos de comemoração do Natal, a manjedoura deixou de ser vista como o que de fato é, ou seja, o lugar onde vacas, cavalos e ovelhas comem. Se nas peças de Natal se usasse um cocho de verdade e já utilizado, seria difícil achar um infante para representar o Deus Menino.

Quero pontuar dois aspectos da soberania de Deus presentes nessa breve rememoração que fiz dos relatos de Lucas sobre o primeiro Natal. Primeiro, César Augusto, que pensava controlar a História, o mundo e a vida das pessoas, não passava de um instrumento que Deus utilizou para cumprir o que prometera por meio do profeta Miquéias: “E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5:2). Os supostos senhores do mundo, nunca nos esqueçamos disso, só governam na medida em que lhes é permitido. Foi assim com Faraó, Nabucodonosor, Ciro, Assuero, César etc. 

O que o líder romano ordenou fez com que sofressem José, Maria e Jesus (ainda no ventre); Augusto será julgado por isso. No entanto, Deus, como na História de José, transformou o mal em bem (Gn 50:20). 

Em segundo lugar, o Deus soberano, em sua graça e bondade, quis que o Reino de Cristo começasse de forma humilde e como convite de perdão para os rebeldes, isto é, a gente, leitor. Pode ter passado na cabeça de Maria o questionamento sobre o porquê de, mesmo com o Rei do universo na barriga, ter que enfrentar situações tão difíceis. Os súditos receberam o verdadeiro Senhor com um cocho e se despediram dele com uma coroa de espinhos. 

Comparado com os impérios desse mundo, o Reino de Jesus parece fraquinho. Pensamos assim porque ainda não entendemos que seu reinado não é como os que existem nesse mundo (Jo 18:36). O Reino já começou, toda a autoridade já foi dada a Cristo, o Espírito de Poder já desceu sobre a Igreja e já fomos enviados para a missão de proclamar quem verdadeiramente reina. Mas vivemos entre a inauguração do Reino e a sua consumação, o “já” e o “ainda não” que os teólogos costumam mencionar. 

O Reino, como fermento, atua de forma discreta e alcançará seu propósito no final (Lc 13:20-21). Gabriel e Miquéias profetizaram sobre o Reino que começou e que nos convida para sermos perdoados, mas também profetizaram sobre o Reino que vencerá definitivamente todos os inimigos do Cordeiro Vencedor no Dia do Juízo (Ap 20). 

Leitor, todos as pessoas estão diante de duas formas de se relacionar com Jesus, não há meio termo ou neutralidade: ou reconhecem, nessa vida, que a humilde criança que nasceu em Belém é o Senhor e Salvador delas ou a rejeitam como tal. Quem se ajoelhar hoje, prevalecerá na congregação dos justos (Sl 1:5). Os que forem obrigados a se ajoelhar como rebeldes vencidos no Dia do Senhor, serão esmagados com cetro de ferro (Sl 2:9 e Ap 2:27). 

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