Calvino, Lutero e Zwinglio

Programas sobre arquitetura/design de interiores estão muito na moda, existindo inúmeras variações com esse tema, como competições e os da linha educativa do faça-você-mesmo, indo do extremamente requintado ao prosaico. Algo que me chama a atenção neles é o conceito de reforma que eles apresentam: reformar é construir algo novo. É verdade que nós mesmos, sempre que pensamos em reformar nossas casas, não desejamos restaurá-la ao que era, mas procuramos dar uma nova forma a ela.

No entanto, reformar não significa apenas mudar o antigo por algo diferente, já que também tem o sentido de trazer à forma anterior, original, o que foi deteriorado pelo tempo. Perceber essa variação semântica na palavra reforma é fundamental para não nos equivocarmos na compreensão do que realmente foi o movimento restaurador do Cristianismo ocorrido no século XVI, conhecido como Reforma Protestante.
Os reformadores, homens como Lutero, Calvino e Zwínglio, não tinham a intenção de inovar, mas de restaurar o que tinha sido destruído por séculos de falsas doutrinas. Esse desejo pelo sempre novo, pela última geração do celular, é coisa dos nossos dias, fazendo, inclusive, com que ninguém reforme sua casa dando a ela a forma original, isso seria quase um pecado (isso também aparece, para citar outro exemplo, nos programas de reforma de carros, que não são restaurações, mas customizações).
Assim como o Renascimento teve o desejo de conhecer mais a Cultura Clássica (greco-romana), os reformadores também voltaram seus olhares para a Antiguidade, o que para eles significou estudar o Antigo e Novo Testamentos. Eles procuraram conhecer as línguas originais para não se aterem apenas às traduções latinas, principalmente a Vulgata.
Calvino, por exemplo, na sua dedicatória das Institutas da Religião Cristã ao Rei Francisco I da França, a quem tentava convencer a pôr fim às perseguições aos protestantes em seu reino, usa como base de argumentação que a doutrina que defende não é nova, a menos que o seja “para aqueles para quem o próprio Cristo e o seu evangelho são novos”. Não havia interesse de novidade, mas de volta às raízes, pois, afinal, ainda citando o mesmo texto do Reformador de Genebra, “aqueles que sabem que a pregação feita pelo apóstolo Paulo – que Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação – é antiga, não encontrarão nada de novo entre nós”.
“Beleza, história legal, mas o que isso tem a ver comigo?”, pode ser a sua pergunta agora, leitor. Quero compartilhar com você duas conclusões a que cheguei.
Primeiro, a Reforma Protestante não foi inovação dos irmãos do século XVI, mas o desejo e os meios, dados a eles pelo próprio Deus, de voltar ao Evangelho puro. Isso não quer dizer que cristãos não se salvaram na Idade Média católica, mas que muitos erros foram introduzidos na Igreja de Cristo, algo que Deus, em sua Providência, decidiu corrigir através do profundo estudo da Bíblia por parte de homens como Lutero, Calvino etc. Daí um dos principais lemas reformados ser Sola Scriptura (só as Escrituras), afirmando que o que ensinavam não era invenção da cabeça deles ou uma nova revelação, mas apenas uma leitura séria da Palavra de Deus, nada mais do que a defesa que a Bíblia deve ser nossa única fonte de fé e prática.
Em segundo lugar, ficar parado no século XVI é cometer o mesmo erro que os reformadores tão duramente criticaram: não voltar às raízes, não voltar às Escrituras e ficar agarrado às tradições humanas. Calvino não é infalível, nem o são Lutero, Agostinho, Berkhof etc. Inclusive, sei que eles não desejavam ser e ficariam horrorizados com o fato de alguns os tratarem assim. Por isso, o moto reformado Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est (que numa tradução livre, significa: A Igreja Reformada sempre está em reforma) deve nos remeter sempre às origens, às Escrituras, pois qualquer teólogo só está correto em suas afirmações sobre a Fé Cristã na medida em que está de acordo com a Palavra de Deus.
Nas duas conclusões que compartilhei, está presente o apego reformado às Escrituras. Sendo assim, é importante lembrar que 1) a importância dos reformadores está na volta à Bíblia; e 2) parar nos reformadores como se eles fossem infalíveis (eles mesmos não estavam de acordo em todos os assuntos) é cometer o erro que eles criticaram. Sendo assim, cobremos mais ensino da Bíblia de nossos pastores e líderes, para que a Igreja de Cristo nunca deixe que a poeira do tempo ou o brilho da novidade escondam a beleza que é a Palavra do nosso Deus. 

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