Robert Raikes |
Quero começar, caro leitor, dizendo que na Bíblia não tem nenhum versículo ordenando: “terás escola dominical na tua igreja”. No entanto, o fato dessa instituição não estar ordenada diretamente nas Escrituras não faz com que ela não seja uma importante ferramenta a serviço do Reino de Deus. A Escola Dominical não é sagrada, mas é uma bênção.
É importante iniciar essa conversa observando que o Protestantismo, desde o seu início, valorizou a educação. Isso aparece, por exemplo, na defesa da idéia e da prática de que todo crente deve ter acesso à Bíblia, daí perguntar-se aos pais, na ocasião do batismo de suas crianças, se eles prometem ensinar-lhes ler para que seus filhos possam, por eles mesmos, ler as Sagradas Escrituras. Outro exemplo disso e a exigência de formação de pastores em Seminário Teológicos (Bacharelados em Teologia) a partir da Reforma do séc. XVI. Esse apreço à educação também se apresenta no fato de que um dos primeiros defensores da educação universal, ensinar tudo a todos (inclusive mulheres), ter sido o pastor morávio João Amós Comênio, no séc. XVII. Para citar um exemplo brasileiro, as escolas protestantes, inclusive o Instituto Presbiteriano Mackenzie, foram percussoras da educação mista (homens e mulheres) em terras tupiniquins.
Diferentemente dos católicos, que com as suas escolas religiosas, sobretudo jesuítas, procuraram educar as elites, os protestantes incentivaram a educação universal como importante forma de evangelização e serviço ao próximo. No protestantismo, a educação não é apenas um meio, ela tem importância em si mesma, pelo fato da capacidade de aprender do homem ser uma das facetas que o torna imagem e semelhança de Deus.
A Escola Dominical faz parte desse interesse protestante na educação. Esse valioso espaço de educação cristã nasceu na Inglaterra em 1780 (completa 235 anos em 2015). Seu criador foi o anglicano Robert Raikes, original da cidade de Gloucester. Ao ver inúmeras crianças desocupadas aos domingos (muitas delas trabalhavam nas fábricas durante a semana) e sabendo que as mesmas eram analfabetas em sua maioria, Raikes decidiu alfabetizar os pequeninos e ensinar-lhes a Palavra de Deus.
Com o tempo, a iniciativa de Raikes ganhou proporções de um movimento. Em menos de uma década alcançou a Inglaterra, País de Gales, Escócia, Irlanda e Estados Unidos. Hoje é uma realidade mundial. Primeiramente, a Escola Dominical era uma organização interdenominacional, posteriormente, as denominações abriram suas próprias instituições de ensino e que também funcionavam aos domingos. Com o avanço da educação básica universal nos países de cultura ocidental, o papel da Escola Dominical como um espaço de alfabetização perdeu importância, detendo-se, exclusivamente, no ensino do Texto Sagrado.
Já discutimos de onde ela vem e vimos a sua importância para a educação de inúmeras pessoas, inclusive como uma das ferramentas do protestantismo para a educação universal. Também como ela serviu para a propagação da Palavra de Deus. Falta-nos responder, leitor: para onde ela vai? Não pretendo aqui prever o futuro da Escola Dominical, minha intenção é defender sua continuidade como fundamental espaço para o discipulado e a educação cristã, principalmente entre as denominações de origem protestante, como é a Igreja Presbiteriana do Brasil.
Como resta evidente, educação é coisa séria para nós protestantes. Tratando-se de aprender a Palavra de Deus, o assunto torna-se seríssimo. Infelizmente, o Protestantismo Brasileiro, talvez influenciado pelo Catolicismo de raiz ibérica, desvaloriza cada vez mais o ensino da Bíblia. Isso aparece no apreço a pregações que são mais palestras sobre temas religiosos do que exposições das Escrituras e no desaparecimento da Escola Dominical em muitas igrejas, inclusive as históricas.
Por melhor que seja o sermão, ele não substitui o ensino mais individualizado e comunitário de uma sala de aula. Além disso, a Escola Dominical possibilita o exercício do ensino pelos leigos e a preparação das lições contextualizadas para grupos (etários, de maturidade espiritual e interesses) distintos. Igreja que trabalham com pequenos grupos devem levar em conta que esses espaços semanais e familiares são para várias funções, como oração, comunhão e ensino, sendo bastante resumido o tempo para um aprendizado mais aprofundado da Bíblia.
Deixar de ter Escola Dominical não é pecado, mas é, na minha opinião, um equívoco, pois é abrir mão de uma boa ferramenta para a formação de crentes que de fato conhecem e manejam bem a Palavra de Deus, algo cada vez mais raro nos nossos dias.
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