“Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal”. (Jó 1:1).

O Livro de Jó não é apenas a discussão sobre a perplexidade que nos causa a coexistência, biblicamente afirmada e experiencialmente sentida, da soberania de Deus, sua bondade e a maldade no mundo. A obra também trata da vida de um homem que, inicialmente, é descrito como crente (Jó 1:1, 8) e que, mesmo sofrendo que só, continuou fiel a Deus até o fim (1:20-22; 2:3, 10; 42:7-8). Satanás estava errado ao afirmar que os crentes não amam a Deus por quem Ele é e que apenas o temem e se relacionam com Ele para obter vantagens materiais; Jó, com sua fidelidade a Deus, demonstrou que o Capiroto, para variar, estava enganado.
Os amigos de Jó (com amigos assim, inimigos pra quê?) queriam ser advogados de Deus no que, desde Leibniz, chamamos de Teodicéia (θεός, “Deus”, e δικέ, “justiça”), isto é, a tentativa de justificar o Onipotente e Bondoso Criador pela existência de sofrimento e mal na Criação. Jó se julgava a parte ofendida por Deus e, por diversas vezes, chamou o Onisciente para debater, querendo colocar o Senhor do Universo, Aquele que afirma que “o que está debaixo de todos os céus é meu” (41:11) e que “o mundo é meu e quanto nele se contém” (Sl 50:12), como parte acusada em Tribunal.
A resposta do SENHOR, do meio de uma tempestade, é uma série de perguntas retóricas que colocam Jó no seu devido lugar; isto é, Jó é só um homem, criatura, e YHWH é Deus, o Criador do universo: cosmos (38:4-38), animais (38:39-39:30) e monstros surpreendentes e poderosos como Beemote e Leviatã (40:15-41:34).
Aprendemos nesse livro sapiencial que a fonte da Sabedoria é Deus (principalmente o poema no capítulo 28) e que, por vezes, Ele não nos explica tudo. O homem de proverbial paciência terminou sua jornada sem saber o porquê de tanto sofrimento em sua vida, entretanto, aprendeu algo muito melhor, a confiar na soberania, bondade e justiça de Deus. O Coisa Ruim e o mal que ele causou à história do protagonista humano foram apenas instrumentos para que um homem justo se tornasse um crente cheio de intimidade com o Eterno. Para nosso espanto, o íntegro Jó, mesmo temendo a Deus ao longo de todo livro, apenas no final declarou ao Justo Juiz: “eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem” (42:5).

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