Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski, um cristão do XIX que soube usar sua arte para falar do Reino de Deus.

Crime e Castigo, uma das principais obras de Dostoiévski, está completando 150 anos. Ela conta a história de Rodion Românovitch Raskólnikov. O protagonista é um estudante de direito sem muita grana e que se acha acima da média. Até aí, nada de novo debaixo do sol.

O problema é que Raskólnikov, entorpecido com idéias que confundiam jovens universitários no XIX e que ainda confundem jovens universitários hoje, defende que a sociedade tem dois tipos de pessoas: de um lado, o homem ordinário e que vive para obedecer às leis. Em oposição e superior ao primeiro tipo, está o extraordinário, que vive acima das leis.
Raskólnikov deseja o mesmo que deseja Nietzsche, Freud, Sartre, Foucault e o casal Adão e Eva quando estes últimos comem do fruto do conhecimento do bem e do mal. Todos querem ser como Deus, ser quem decide o certo e o errado. Inclusive, o estudante russo e o filósofo bigodudo chamam de “rebanho” quem abre mão da própria vontade, seja pelos outros, seja pelo SENHOR.
Se você não quer saber mais da história antes de lê-la, É melhor apertar simultaneamente Alt e F4.
Você teve sua chance. No início da obra, Raskólnikov, necessitado de dinheiro e desejando pôr em prática sua filosofia egoísta, decide matar uma velha agiota, que ele considerava um “verme”. Lutando contra a própria consciência, planeja, mata e rouba a usurária. Durante o crime, para não deixar testemunhas, ele também acaba matando a irmã da sua primeira vítima.
Depois de cometer o crime, Raskólnikov, sendo corroído por sua consciência, conhece Sônia, que representa uma interessante releitura da Parábola do Samaritano. Essa moça, prostituta, pregou o Evangelho ao estudante perdido e o ajudou a entender o fato de que não há como fugir da própria consciência, uma vez que, como nos ensinam Paulo, Calvino, C. S. Lewis e Dostoiévski, todos nós somos seres morais e temos o que o barbudo de Genebra chama de sensus divinitatis, isto é, certa percepção da existência do Criador, que não só nos torna indesculpáveis diante dEle, mas também gera em nós a consciência da culpa do pecado.
Parafraseando Kuyper, esse desejo de independência moral nada mais é do que o grito desesperado do coração humano consciente de sua própria falência espiritual. Resumindo, é fuga tola da culpa, é fuga inútil de Deus.

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