Texto para leitura: Salmo 39


A realidade nos confronta com situações que temos muita dificuldade em conciliar com aquilo que sabemos de Deus, seu poder e bondade. Inquietos ou perplexos, somos alvos das tentações: dúvidas quanto ao caráter de Deus, ou, em uma situação extrema, a blasfêmia contra Deus. Parece ser essa a situação vivida pelo poeta ao compor o salmo.

1. UMA DECISÃO MUITO CUSTOSA (v. 1-4) 
Como homem piedoso que é, ao salmista cabe testemunhar sobre a pessoa de Deus àqueles que não o conhecem. Porém as coisas que agora lhe ocorrem acerca do SENHOR não devem ser compartilhadas com os ímpios, pois não lhes mostrariam quem é Deus. Daí a decisão de calar, de não deixar que de sua boca saia a expressão de suas dúvidas e perplexidades interiores (v. 1). No entanto, isso não resolve os dilemas intimamente enfrentados. A falta de expressão parece até agravar a realidade interna: a angústia aumenta (v. 2). É como fogo ardendo e queimando suas entranhas (v. 3). 
Os dilemas, as perplexidades, as angústias, as situações ininteligíveis, a agonia impulsionam o salmista em direção a Deus (v. 4).
2. UMA CONFRONTAÇÃO MUITO HUMILHANTE (v. 5-7)
A súplica do salmista é no sentido de uma autoconsciência (v. 4). A percepção da fragilidade e da fugacidade da vida (v. 5) permitem encarar as situações sob outra perspectiva.
Limitado e passageiro em sua existência, como poderia o homem fazer uma avaliação adequada da realidade? Tendo tão acanhada visão, é atrevida pretensão estabelecer juízos e chegar a conclusões definitivas, quando nos defrontamos com aspectos tão contraditórios e com coisas paradoxais no mundo que nos cerca. 
Além de frágil e fugaz, o homem deve estar consciente de que, nem mesmo no âmbito sobre o qual ele parecer ter controle – o resultado de suas realizações – é possível garantir o curso da vida. O resultado das conquistas foge às suas rédeas (v. 6).
Diante desse caráter fugidio da existência, o que fazer? Ancorar a existência na realidade eterna e imutável de Deus (v. 7). Pois, mesmo confrontado com a contingência de sua vida, o homem carrega anseios de transcendência, que só podem ser resolvidos quando ele se une a Deus.
3. UMA PETIÇÃO MUITO AFLITA (v. 8-11) 
A petição pelo perdão divino (v. 7a) aponta para algumas razões das circunstâncias angustiantes que o poeta atravessa. Ela lhe parece agora o resultado da ação mesma do SENHOR (v. 9), que objetiva, com isso, fazer com que os homens se corrijam dos seus erros (v. 11). Quando Deus repreende e disciplina os homens, vai direto àquilo que lhes é mais precioso, atingindo o que eles dão grande valor (v. 11).
As dificuldades da travessia se agravam com a zombaria dos tolos (v. 8). Não há respostas a dar aos zombadores. A percepção da mão do SENHOR em toda a situação é geradora de reverente silêncio. É necessário suportar calado o sofrimento enviado por Deus, de modo a não deixar que escapem lamentações ou palavras rebeldes que possam ser ouvidas pelos ímpios (v. 9). O salmista sabe a grande responsabilidade que a verdadeira fé implica: a vida do fiel deve apontar para a realidade de Deus e dar testemunho dela
Depois de pedir perdão, ele suplica a suspensão do castigo (teu açoite, v. 10), radicado na consciência de que “não passa de um sopro” (v. 11).
4. UMA ORAÇÃO MUITO CONFIANTE (v. 12-13)
Nessa oração, o salmista expressa, em termos individuais, o que já afirmara sobre todos os homens. Sua confiança no perdão e na restauração divinos está baseada unicamente em Deus. A imagem do estrangeiro (v. 12) faz emergir a ideia de vulnerabilidade e fragilidade. Aponta também para o caráter passageiro da condição humana. O estrangeiro não tem seguranças, não tem garantias; não tem o amparo comunitário. Como o estranho, o salmista depende da benevolência e da misericórdia daquele a cuja proteção se confia. Sem a graça de Deus o homem está perdido. Se o SENHOR não manifestar essa benevolência, a vida será marcada pela tristeza.
Em outros salmos, o poeta pede que o SENHOR volte suas vistas para ele – sinal de favor, olhar de vigilante proteção (Sl 33.18; 34.15 e 17; 80.14 e 19). Aqui, ao contrário, o pedido é para que o seu olhar seja desviado. Parecem ser olhos de um fiscal, que detecta o erro e o aponta sem clemência. Esse olhar traz tristeza, porque o desnuda, fazendo-o consciente de seus erros, fraquezas e incapacidades.
A confrontação com a nossa imperfeição e maldade tira-nos a alegria. É preciso buscar, então a graça perdoadora de Deus, para termos restaurada a alegria na vida que ele nos concedeu. Seu desejo é que desfrutemos alegremente dessa existência, presente de suas mãos (Ec 8.15).
Para pensar: Em que está minha esperança?
Para ora: “Senhor, meu Deus, não sei para onde vou. Não vejo o caminho diante de mim. Não posso saber com certeza onde terminará. Portanto, sempre hei de confiar em ti, ainda que me pareça estar perdido e nas sombras da morte. Não hei de temer, pois estás comigo e nunca me abandonarás.” Thomas Merton (1915-1968).
Para guardar: Fragilidade + humildade = esperança no SENHOR.

Extraído do livro (pelo próprio autor): Intimidade com Deus (Meditações nos Salmos). A obra está disponível em:
· Livraria Saraiva (Midway Mall/ Natal Shopping Center)
· Livraria Gilgal (Via Direta/ Pç. Gentil Ferreira – Alecrim)
· Loja dos Evangélicos (Pç. Gentil Ferreira – Alecrim)
· Cooperativa Cultural (Centro de Convivência – UFRN) 
· Revistaria (Centro de Convivência – UFRN) 
· Revistaria Super Banca (Via Direta) 
· Revistaria Cultural (Nordestão – Av. Eng. Roberto Freire)

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